15 de setembro de 2023
Tempo de Leitura: 12 minutos Desde jovem eu influenciava meus colegas e achava interessante lidar com a diferença geracional, ouvia meus líderes e me sentia uma “ponte” entre eles e as pessoas da minha idade ou mais novos que eu. Aos 19 anos, na Universidade comecei a participar de um núcleo acadêmico sobre Religião, Gêneros e Gerações. Desse estudo nasceu o interesse de aprofundar-me na temática da juventude no mestrado. Ao finalizar o mestrado, embarquei em outras oportunidades profissionais, o tempo passou, mas a característica de ter um olhar atento às questões juvenis permaneceu. Em 2018, com 33 anos, comecei a escrever um Projeto Social para capacitar jovens ao mercado de trabalho e me vi diante da necessidade de voltar a estudar essa faixa etária (com muita alegria e entusiasmo, claro!). Mas, a primeira realidade que me sobressaltou os olhos foi a reação dos adultos: “nossa, mas você deve ter muita paciência!”; “Que bom, porque os jovens aprendizes do meu trabalho parecem de outro mundo”, dentre outras frases de incompreensão e preconceitos. Foram pouquíssimas pessoas que reconheceram o potencial e a oportunidade de ter um jovem em sua equipe. Ali eu percebi que não só teríamos que capacitar os jovens ao mercado, como ensiná-los a dialogar com os adultos e romper com os preconceitos nas organizações. Estudei possibilidades e em 2019 iniciamos uma ONG, o Instituto Programando o Amanhã. Temos como principais metodologias a sala de aula invertida e as técnicas do mentoring. Após esses quatro anos de atuação, em que minha idade vai se distanciando cada vez mais das dos alunos, temos que nos adaptar frequentemente às novas necessidades, eu estou envelhecendo mais nossa ONG precisa ser jovem para que permaneça. Tendo por base essa experiência, quero dividir com vocês três pontos que considero fundamentais para o diálogo intergeracional. 1 - O reconhecimento do diálogo e aprendizado mútuos. Em 2019, quando estudava métodos de capacitação e desenvolvimento humano, me deparei com a Mentoria. O processo de Mentoring surge de um reconhecimento mútuo de confiança: o mentor que se dispõe a desenvolver o aprendiz em quem vê potencial. E o aprendiz que considera a autoridade e a influência de um mentor. É necessário o genuíno interesse na pessoa com quem se trabalha, conhecer e romper com seus próprios preconceitos e primeiras impressões antes de tentar romper com os do outro. Quando se trata de um jovem, observar seus talentos e suas dificuldades na perspectiva de ajudá-lo a superá-las; no caso da pessoa com mais idade, reconhecer nela as características que podem desenvolver seu próprio talento e inseri-la nas atualizações. 2 - Desenvolvimento da autonomia e pensamento crítico. Antes de se frustrar com a imaturidade do jovem, esteja disposto(a) a ajudá-lo a desenvolvê-la. Talvez você reconheça que também precisa amadurecer. Uma das primeiras jovens que mentorei pôs em xeque um dos meus principais valores: estudar em uma universidade. Minha vontade às vezes era dar uma sentença determinista, tal qual escutei na minha juventude: “sem universidade você não terá conhecimento e conhecimento é seu maior bem”. Porém, respeitando o processo do mentoring, pedi para que ela refletisse sobre o assunto. E talvez, bem mais que ela, eu também refleti. Li artigos, revisitei minha história e meus padrões de pensamento. E no final vivi o processo de influenciar e ser influenciada conforme tinha aprendido na teoria. Aquela jovem também se tornou minha mentora . Trocamos informações em que eu aumentei seu repertório e ela aumentou o meu. Independente da questão sobre a universidade, eu reconheci a importância de respeitar o protagonismo dos jovens, despertando o pensamento crítico e deixando-os livres nas tomadas de decisões que lhe cabem. P.S - Caso tenha curiosidade: ela trouxe no encontro posterior suas ponderações; eu mostrei para ela as possibilidades (os prós e contras) que eu observei com minhas pesquisas. E demos continuidade ao processo. Ao final, ela escolheu testar através de freelancers a habilidade técnica para ver se era mesmo o que queria e passou no Enem, em uma faculdade que complementa sua escolha. 3 - O combinado não sai caro: comunicação transparente e assertiva. Nos últimas dias fiz a seguinte reflexão: “estamos em um tempo que ser gentil, não necessariamente gera gentileza”. Estou dividindo essa reflexão com você porque, em sua maioria, os jovens precisam compreender o propósito para aderi-lo; apresentar informações claras e acordar comportamentos tem sido a melhor forma que encontrei para engajá-los nas atividades propostas. Percebi que o padrão de diálogo baseado em comandos e conhecimentos tácitos, se tornam cada vez mais propensos ao conflito, já que temos diversidade de valores e culturas coexistentes. A queixa de muitos adultos (inclusive minha também) é falta de iniciativa ou iniciativa demais dos jovens. Porém quando fazemos acordo dos papéis e responsabilidades de cada um, os relacionamentos fluem com mais facilidade. Um exemplo: um mentorado, jovem-aprendiz em uma empresa, estava frustrado porque nenhum de seus superiores lhes desafiava. Ele não conseguia desenvolver habilidades porque só lhe davam tarefas simplórias. Apliquei como exercício, sempre que terminar alguma tarefa, perguntar à gestora se gostaria de mais alguma ajuda. Ela cedeu e assim, o jovem não só cresceu na empresa como estava com chance de ser efetivado. Uma pergunta para você refletir: Você se imagina com que postura no lugar dessa gestora? Além de acordos que não são mais tácitos existe a realidade que as novas gerações são movidas pelo “porquê?”. Quanto mais você for transparente e assertivo; tiver coragem de mostrar sua vulnerabilidade, mais o jovem vai se engajar na sua necessidade. Esteja disposto(a) a ouvir ponderações. Para os mais velhos é tedioso, reconheço! Porém, quantas vezes mudei decisões diante dos questionamentos que escutei e quantas vezes aprendi com esses mesmos questionamentos? Inúmeras vezes. Uma tática com minha equipe: A bolinha do silêncio. Todos são abertos a falar. Mas, se alguém (inclusive eu) tentar dominar a conversa, ou resolver ponderar demais assuntos já esgotados, utilizamos a bolinha para que essa pessoa seja silenciada. Em tom de brincadeira ensinamos a escuta e a tornar a fala mais assertiva. Talvez a primeira coisa que veio à sua cabeça quando leu o título do texto foi o seu pedido de socorro ao usar tecnologia. E é sobre isso mas, vai além. As novas gerações estão cada vez mais aptas a lidar com a inovação e mudanças societárias constantes. Reconhecer suas habilidades é importante até mesmo porque a tensão entre as gerações gera o diálogo entre os processos estabelecidos e a inovação. Essa tensão vivida de forma salutar pode gerar uma produtividade ainda mais sustentável para a organização. Todos se desenvolvem, o jovem e o adulto. O adulto iniciante na organização e o jovem gestor na organização. No meu caso, eu preciso aprender muito com os instrutores de Tecnologia que tem em média 22 anos e eles escutarem minhas ponderações quando percebo ideias inviáveis. E quem ganha no final, é nossa ONG, são os jovens que participam de nossas atividades, são todos que aderem a essa jornada. Esperamos que mais jovens e mais adultos se coloquem neste caminho de construção e desenvolvimentos mútuos e contínuos, visto que as diferentes gerações trabalhando em torno de um objetivo comum é um caminho eficaz. Você se propõe a aderir a essa construção? Caso precise de ajuda, estamos aqui para te ajudar.